domingo, 2 de maio de 2010

Alimentados pela raiva com a lei do Arizona, defensores da imigração se mobilizam por mudança

02/05/2010

The New York Times
Julia Preston
Em Washington (EUA)


Manifestantes se reuniram no sábado para dezenas de protestos por todo o país, na esperança de que a raiva em torno de uma dura lei anti-imigração ilegal no Arizona dê impulso ao seu pedido para que o Congresso promova uma reforma da imigração.

Grandes comícios de Primeiro de Maio foram convocados em Los Angeles, Phoenix, Dallas, Milwaukee, Chicago e aqui em Washington, D.C., com eventos menores planejados em cerca de 70 lugares por todo o país. Os organizadores previram que a reação à lei do Arizona aumentaria o número de manifestantes presentes, para expressar sua frustração com Washington pela falta de progresso na legislação de imigração.

Os protestos se somaram à crescente onda de resposta à lei do Arizona, com agências de governo e organizações em outros Estados cancelando negócios no Arizona, e a Fraternidade Alfa Fi Alfa, uma grande organização afro-americana, cancelando seus planos de realizar sua convenção anual em Phoenix, em julho.

Os organizadores previram que centenas de milhares de pessoas compareceriam para os comícios, mas a polícia em várias cidades disse estar planejando para números muito menores.

A lei do Arizona transformou em crime estar presente no Estado sem status legal de imigração e autorizou a polícia a questionar as pessoas a respeito de seu status, com base na suspeita de que possam ser imigrantes ilegais.

Os defensores da lei, incluindo a governadora do Arizona, Jan Brewer, disseram que o Estado teve que agir porque o governo federal fracassou em assegurar o cumprimento das leis de imigração. Críticos por todo o país disseram que a lei levaria a discriminação racial de latinos e espalharia o medo pelas comunidades de imigrantes.

“A mensagem é um coletivo e sonoro não à lei de imigração do Arizona”, disse Jorge-Mario Cabrera, um porta-voz da Coalizão pelos Direitos Humanos do Imigrante, de Los Angeles, um dos grupos que organizou o comício lá.

Os eventos do Primeiro de Maio, o Dia do Trabalho em vários países do exterior, foram planejados desde março por organizações de defesa dos imigrantes, que estabeleceram a data como prazo para o Congresso apresentar uma legislação de reforma, que forneça um caminho para a legalização de milhões de imigrantes ilegais.

Nenhuma legislação foi apresentada e o presidente Barack Obama disse que o Congresso “poderá não ter apetite” por um debate volátil sobre a imigração. Um grupo de senadores democratas apresentou na quinta-feira um esboço de um projeto de reforma, escrito principalmente pelo senador Charles Schumer, democrata de Nova York.

Mas os organizadores disseram que a lei do Arizona foi um evento divisor de águas para várias organizações de defesa dos imigrantes, as transformando em algo semelhante ao movimento dos direitos civis, com um perfil nacional.

Muitos manifestantes repetiram essa mensagem. “Como cristãos evangélicos, nós gostamos de acreditar que teríamos marchado em Selma com o dr. King”, disse o reverendo Troy Jackson, da University Christian Church, em Cincinnati. “Esta nova lei no Arizona impõe a pergunta: ‘Nós teremos a coragem de combatermos a injustiça contra o imigrante em nossa terra?’”

Em Los Angeles, o cardeal Roger Mahony discursou para a multidão de manifestantes no centro da cidade.

“Nós nos beneficiamos do trabalho dos imigrantes, mas não lhes damos nenhum direito”, disse o cardeal, falando em espanhol. “Toda vez que há uma recessão econômica, nós temos um novo ataque aos imigrantes.” Algumas pessoas carregavam cartazes em espanhol dizendo “Todos Somos o Arizona”.

Salvador Lopez, 52 anos, um funcionário de um hotel em Lake Forest, Califórnia, que estava presente entre os manifestantes em Los Angeles, carregava um cartaz em espanhol que dizia: “Obama, lembre de suas promessas”.

O prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, apoiou o boicote ao Arizona e pediu às pessoas na cidade que participassem da marcha no sábado. No Primeiro de Maio do ano passado, as organizações de imigrantes em Los Angeles conseguiram um baixo comparecimento, após os grupos brigarem entre si e realizarem eventos separados. As organizações latinas e de imigrantes disseram que se uniriam neste ano em um evento único.

A lei do Arizona torna crime os imigrantes não portarem documentos e também torna crime transportar grupos de imigrantes ilegais. A lei ainda não entrou em vigor e várias ações foram apresentadas na Justiça para derrubá-la.

Esse artigo na lei alarmou alguns representantes de igrejas latinas no Estado, que disseram que poderiam ser presos por transportar os fiéis. Muitas igrejas, incluindo denominações católicas, protestantes e evangélicas, disseram que planejavam eventos para o sábado.

Em Dallas, os líderes religiosos planejavam uma marcha da Catedral da Virgem de Guadalupe, a padroeira do México, até a Prefeitura.

O deputado Luis Gutierrez, democrata de Illinois, que também estava organizando grupos latinos em apoio à reforma da imigração, disse que planejava cometer um ato de desobediência civil no Capitólio, na tarde de sábado em Washington.

Em Chicago, grupos de imigrantes planejavam um comício em Union Park, no West Side da cidade, e uma marcha pelo centro até Daley Plaza. Os organizadores disseram que a marcha teria um maior senso de urgência do que eventos anteriores, que contaram com milhares de participantes, por causa da lei do Arizona e do ritmo das deportações.

As táticas também mudaram, com os grupos planejando ser mais agressivos e correrem o risco de serem presos para divulgar sua mensagem, disse Flavia Jimenez, uma diretora de programa da Coalizão de Illinois pelos Direitos e Refúgio dos Imigrantes.

“Este é um momento de virada para a comunidade imigrante, porque estamos nos colocando até mesmo fisicamente em risco a esta altura, para mostrar ao restante deste país que precisamos da reforma da imigração”, disse Jimenez. “Nós prosseguiremos na escalada enquanto não virmos qualquer ação real por parte de nosso governo.”

O sistema de escolas públicas de Denver proibiu viagens a trabalho ao Arizona, informou a agência de notícias “The Associated Press”.

A Fraternidade Alfa Fi Alfa, uma organização historicamente negra cujos membros incluíram o reverendo Martin Luther King e o ministro do Supremo Tribunal, Thurgood Marshall, anunciou que estava transferindo sua convenção anual de Phoenix para Las Vegas. A fraternidade disse que espera que até 10 mil pessoas, incluindo os membros e suas famílias, estejam presentes na convenção em julho.

A direção da fraternidade decidiu que não poderia realizar um encontro em um Estado com “uma lei que coloca os direitos civis e a própria dignidade de nossos membros em risco durante sua estadia em Phoenix”, disse Herman Manson, o presidente geral.

A Liga Urbana Nacional anunciou na sexta-feira que deixaria Phoenix de fora do planejamento de uma convenção em 2012.
Tradução: George El Khouri Andolfato

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