quarta-feira, 21 de abril de 2010

Oito temas que definirão o mundo em 2010

Reportagem sugerida por Ludmila Prevost


10/01/2010


Equipe Der Spiegel

O ano passado pareceu um final adequado para uma década durante a qual o mundo viveu crise após crise. A lista de assuntos não resolvidos é longa e muitos temas prementes devem demandar atenção em 2010. A "Spiegel" apresenta alguns que merecem observação.

O ano de 2009 parece ter deixado para trás mais assuntos não resolvidos do que conquistas. No topo da lista, é claro, está a conferência sobre o clima em Copenhague, que não deixou muito mais do que um plano vago para um caminho possível enquanto o mundo procura uma estratégia conjunta para combater o aquecimento global.

Mas há uma miríade importante de temas que ainda demandam atenção. O Irã ainda parece ter a intenção de produzir uma arma nuclear. O Paquistão parece estar caminhando cada vez mais para a beira do abismo. O Afeganistão continua espiralando na violência, e os temores quanto ao terrorismo global estão maiores do que nunca depois do ataque fracassado no dia de Natal a um voo da Northwest Airlines da Europa para Detroit. Apesar de os países do mundo terem se unido para evitar uma catástrofe durante a pior recessão desde a 2ª Guerra Mundial, a economia global continua longe de ser saudável.

Mas 2010 não será apenas um ano de lidar com as crises. A Copa do Mundo, que acontecerá na África do Sul esta vez, está chegando mais uma vez rapidamente e a China será anfitriã de uma feira mundial extremamente pródiga na Xangai EXPO 2010. A "Spiegel" apresenta os oito temas que merecem atenção em 2010.

Um Sudão ou dois?

As pessoas no maior país da África devem ir às urnas em abril, e os resultados deverão ajudar a determinar se o Sudão continuará sendo um país unificado, ou se irá se dividir. Um referendo para saber se o sul, composto principalmente de cristãos e animistas, irá se separar do norte predominantemente muçulmano está planejado para janeiro de 2011. Mas mesmo agora, o norte tem pouco interesse em manter a estabilidade no sul do país.

Em tese, os depósitos de petróleo no sul poderiam tornar a região rica. A realidade, entretanto, parece diferente, e o sul do Sudão é um clássico Estado falido. Ele não tem um governo funcional ou um poder judiciário confiável. Tampouco há uma força policial adequada, administração pública ou infraestrutura educacional ou de saúde. Só em 2009, mais de 2 mil pessoas foram mortas em conflitos e ataques, alguns dos quais por motivos étnicos e outros instigados pelo norte. Na verdade, parece pouco provável que as eleições marcadas para abril de fato aconteçam. O processo de votação é complicado, e tanto o norte quanto o sul acusaram um ao outro de manipular os registros eleitorais no sul do Sudão. É provável que haja mais caos.

O fim da era de Maliki no Iraque?

Uma das eleições mais importantes marcadas para 2010 acontecerá no Iraque em 6 de março. A votação determinará se o atual primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki continuará no poder. O político, que pertence à população xiita do país, conseguiu estabelecer um nível de governabilidade num país que é certamente o mais difícil de se governar no Oriente Médio.

Todos os concorrentes mais sérios de al-Maliki também são xiitas, incluindo o ambicioso ministro do Interior Jawad al-Bolani. Mas no Iraque, os candidatos de conciliação normalmente são tirados das fileiras de candidatos menos conhecidos, como aconteceu com o próprio al-Maliki. Se o processo de escolha do próximo primeiro-ministro se arrastar por muito tempo como aconteceu em 2006, a resolução do problema pode exigir alianças extremamente disputadas e frágeis. Elas poderão acontecer entre sunitas e xiitas, curdos e árabes - e entre Bagdá, que quer demonstrar sua independência, e Washington, que quer reter um alto grau de influência mesmo depois de suas tropas se retirarem em agosto.

Um ataque às instalações nucleares do Irã?

Pode ser que 2010 seja o ano em que veremos os Estados Unidos e a Rússia reduzirem consideravelmente seus arsenais de armas nucleares. E poderá também ser o ano em que veremos o Irã se juntar ao crescente grupo de nações que possuem armas nucleares. Ou poderá até mesmo ser o ano de ambas as coisas.

Em janeiro, o presidente Barack Obama planeja pressionar pela renovação do pacto Start, que expirou em dezembro de 2009, e por uma redução no número de ogivas nucleares prontas para combate e equipamento de lançamento. Moscou deve concordar com as propostas. Além disso, em maio, os 189 países que assinaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear deverão se reunir formalmente em Nova York, onde os Estados que não possuem armas nucleares devem pressionar os que as possuem para reduzirem seus arsenais.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus estão pedindo, primeiro, que todos os países assinem o protocolo adicional do pacto, o que permitiria primeiro que inspetores da ONU fizessem vistorias sem aviso prévio e, segundo, que qualquer país que se retire do tratado (até agora, apenas a Coreia do Norte fez isso, mas alguns políticos em Teerã ameaçam fazê-lo) não possa ficar com materiais nucleares comprados enquanto eram signatários do mesmo.

Além disso, em fevereiro, poderá haver uma nova rodada de sanções contra o Irã, embora a liderança iraniana tenha prometido não se deixar influenciar por nenhuma dessas medidas. Dada a situação, torna-se ainda mais provável que Israel ou os EUA possam lançar um ataque aéreo contra as instalações nucleares do Irã em algum momento de 2010. Um ataque como este teria consequências inimagináveis sobre o Oriente Médio e o resto do mundo.

Uma seleção africana pode ganhar a Copa?

Em 2010, a África será pela primeira vez a anfitriã da Copa do Mundo. Mas quando os jogos começarem na África do Sul em 11 de junho, muito mais do que troféus dourados e direitos de transmissão estarão em jogo. Equipes de seis países africanos - Argélia, Camarões, Gana, Costa do Marfim, Nigéria e África do Sul - jogarão no torneio e lutarão pela identidade e orgulho de todo o continente.

Mesmo meio século depois de conquistar sua independência das potências coloniais, as coisas continuam não indo muito bem para muitos países africanos. Os níveis de pobreza estão aumentando, e o hiato econômico com as nações industrializadas se acentua. O torneio de futebol vem exatamente no momento certo. A África quer mostrar não só que merece ser anfitriã de eventos como este, mas também que pode se bancar - pelo menos no que diz respeito ao futebol. De fato, o esporte pode oferecer uma forma alternativa de terapia - uma forma de um continente inteiro confrontar seu sentimento de inferioridade. "Toda nação africana tem seus problemas internos", disse o ex-jogador sul africano Shaun Bartlett recentemente à BBC, "mas o futebol pode fazer maravilhas para as pessoas".

Esperanças para o clima em Bonn

Depois do frustrante consenso mínimo que emergiu da conferência climática de Copenhague, 2010 será o ano decisivo para determinar se uma abordagem conjunta para combater o aquecimento global é possível. Em junho, os ministros do meio ambiente do mundo inteiro irão se reunir em Bonn, Alemanha, onde esperam atingir um acordo preliminar quanto à possibilidade de assinar um tratado firme para lutar contra a mudança climática em dezembro numa conferência na Cidade do México.

Dois cenários são possíveis. Ou o sistema de governança global das Nações Unidas sobre o tema da proteção climática entrará em total colapso, ou o fiasco das conversas de Copenhague farão com que eles redobrem seus esforços para evitar um fracasso futuro.

O papel dos EUA e da China será decisivo. Os dois países que mais poluem no mundo são a chave para qualquer iniciativa internacional. Se Beijing e Washington não assumirem sua responsabilidade, então é provável que o protocolo de Kyoto expire sem um acordo que o suceda.

Em outras palavras, o que está em jogo não é apenas uma solução para a crise climática global, mas sim todo o mecanismo de governança global. Se os países do mundo não forem capazes de se unir diante do que talvez seja o maior desafio que a humanidade enfrenta, então poderá haver uma polarização ainda maior entre os países mais ricos e mais pobres do mundo, além de uma radicalização dos ativistas climáticos.

Redução dos subsídios para os fazendeiros europeus?

A União Europeia gastou com os fazendeiros de cereais, criadores de gado e produtores de açúcar muito mais do que com qualquer outro problema que o bloco de 27 países enfrenta. No total, 40% do orçamento anual de 123 bilhões de euros são devorados pelos subsídios agrícolas. Em 2006, a UE concordou em gastar boa parte desse dinheiro em pesquisa, educação e proteção ambiental no futuro. Este ano a discussão girará em torno da possibilidade do início de cortes concretos sobre esses subsídios.

O debate será cheio de conflitos - é difícil encontrar outro assunto na UE que seja tão controverso quanto a política agrícola. Neste momento, dois campos aparentemente irreconciliáveis estão se formando. Um lado, liderado pela Grã-Bretanha, quer cortar os subsídios agrícolas em pelo menos um terço. Mas a frente agrícola, liderada pela França e apoiada em grande extensão pela Alemanha, rejeita cortes drásticos. Eles argumentam que a ajuda financeira garante a independência da Europa em relação às importações de alimentos. A batalha ameaça levar a anos de impasse na UE - e a um compromisso europeu tipicamente frágil.

Uma mudança geracional no Oriente Médio

No mundo árabe, haverá discussões em 2010 sobre o que acontecerá aos anciãos que governam três dos maiores Estados árabes. O presidente egípcio Hosni Mubarak, 81, nega que esteja preparando seu filho Gamal, 46, para se seu sucessor, mas a influência de Gamal Mubarak está crescendo. Banqueiro por profissão, Gamal Mubarak apoia a liberalização econômica do país.

O rei Abdullah bin Abdul Aziz, 85, da Arábia Saudita, apontou seu irmão Nayef bin Abdul Aziz, 76, como vice-primeiro-ministro em março de 2009. Dado que o príncipe sultão bin Abdul Aziz, 81, está seriamente doente, a nomeação é vista como uma decisão preliminar a favor do poderoso Nayef e de sua agenda conservadora enquanto sucessor do rei.

Na Líbia, Seif al-Islam Gadhafi, 37, está voltando ao cenário político depois de um período fora dos holofotes. Considera-se provável que ele suceda seu pai, Moammar Gadhafi, 67. A questão é se o coronel, que está no poder há 40 anos, mostrará algum interesse em renunciar.

Demonstração de força em Xangai

Menos de dois anos depois dos Jogos Olímpicos de Beijing, o Partido Comunista chinês está montando um novo espetáculo gigante: a World Expo em Xangai. O objetivo da Expo 2010 é exibir a China - tanto para o mundo quando para seus próprios cidadãos - não apenas como uma superpotência econômica, mas também como um modelo social para o futuro. Cerca de 70 milhões de visitantes são esperados e a exposição deverá ser maior e mais ostensiva do que qualquer outra realizada no passado.

O tema da Expo 2010 é "Cidade Melhor - Vida Melhor". A China quer apresentar a si mesma como uma pioneira do desenvolvimento urbano voltado para o meio ambiente, da sustentabilidade e da inovação. As obras já acontecem há meses, não só no local da exibição mas também na recuperação da infraestrutura da cidade. A rede de metrô está sendo expandida e a famosa orla da cidade, conhecida como Bund, está em reforma. O Partido Comunista está gastando o equivalente a US$ 45 bilhões (R$ 78,5 bilhões) na exposição, apesar da crise econômica. Por isso 2010 poderá ser o ano em que a balança global do poder penderá ainda mais na direção da Ásia.

Tradução: Eloise De Vylder

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